terça-feira, janeiro 29

Repercussões da morte do Presidente Hinckley na campanha de Mitt Romney às presidenciais americanas, pelo Partido Republicano

Se aliarmos o sagrado principio do livre arbitrio, pilar da doutrina da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ao secular principio da separação de poderes de Montesqieu, fácil será compreender a resposta do Presidente Hinckley ao programa televisivo 60 Minutes, da CBS, em Abril de 1996, quando questionado sobre se há envolvimento da Igreja na politica: “ Incentivamos os nossos membros a exercer a sua cidadania, mas não damos qualquer indicação de voto, nem dizemos ao Estado como deve ser governado”.

Assim, claro como ‘agua, o assunto que se pretende desenvolver não faria correr tinta alguma. Mas, dada a ‘agua que passou debaixo da ponte, afinal, parece pertinente.

Em Utah e, quem sabe, mais alem, depois de Mitt Romney ter afirmado que “iria sentir a falta da humildade e sabedoria do Presidente Hinckley” e que pretendia estar presente no funeral, uma das questões do dia e’ opinar se ele deve ou não faze-lo.

Não será despropositado esclarecer que, nos EUA, as cores politicas de topo dividem-se entre Republicanos, mais ao centro-direita, e Democratas, mais ao centro-esquerda.

Os Utahns, de maioria republicana, tem opiniões divergentes.

Há quem acredite que Mitt Romney decidiu vir, pessoalmente, prestar as condolências e assistir ao serviço fúnebre do Presidente da Igreja ‘a qual pertence, como qualquer outro membro pode fazer.

Discordam outros afirmando que decidiu vir para ganhar votos, uma vez que trará toda a parafernália que segue um qualquer candidato presidencial, a saber, os meios de comunicação social, os seguranças, etc. E aparecerá nas luzes da ribalta ganhando, assim, mais simpatizantes. Devia separar as ‘aguas, atestam.

Ora, pelo contrario, dizem outros, Mitt Romney acabará por sair prejudicado nas urnas porque muitos são os americanos que não o apreciam, exactamente por ser mórmon. Assim sendo, o gesto será valorizado somente pelos mórmons de Utah e, com os votos da maioria desses, já ele pode contar, venha ou não.

Finalmente, opinam alguns que o funeral do Presidente Hinckley será, por si só, noticia dado o respeito e carinho manifestado por muitos, membros e não membros, fora e dentro dos EUA.

Diz Mitt Romney que, na altura em que se propôs candidatar à Casa Branca, num dos dois encontros que teve com o Presidente Hinckley, este terá sorrido e dito, a propósito, “será uma grande experiência se ganhar e será uma grande experiência se perder”.

Mike Wallace, um dos nomes mais sonantes e “osso duro de roer” do jornalismo americano, apresentador do programa 60 Minutes, judeu, disse sobre Gordon B. Hinckley, depois de o ter entrevistado: “Foi a “candura” de Hinckley, a sua disposição em responder a qualquer questão, por mais difícil ou, talvez, constrangedora, que fosse” que o encantou.

Apesar do cepticismo, tornaram-se amigos. Sobre Hinckley, Wallace disse: “Admiro-o pela sua coragem e imaginação”. Sobre os mórmons, disse: “ Quando vimos cá e falamos com as pessoas, quando se olha nos seus olhos...que raio, parecem mesmo felizes! Todos parecem inocentes. Se calhar há algo que nos está a escapar”.

Repercussões tem sempre a partida de alguém como o Profeta Hinckley. O legado que nos deixa é a certeza de que inocentes não somos, mas temos potencial para resgatar a inocência “perdida” na meninice.

Cristina Baldaia

Correspondente ALAUM

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