06 Julho 2008 - 09h30
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A Bolha
A Bolha corre o País com uma euforia perigosa. A Bolha, ou a Roda, é um jogo a dinheiro que estabelece grupos de relações em que aqueles que entram pagam uma determinada quantia e, ao saírem, recebem dez ou 12 vezes mais.
Só existe uma condição para que a sorte lhes sorria: pagar e arranjar dois novos aderentes por forma que a roda de jogadores não se parta. Estes dois, por sua vez, arranjarão mais dois, numa interminável corrida para saídas e entradas, multiplicando rapidamente o dinheiro que se pagou. Quanto mais alto é o preço que se paga para entrar maior é o prémio que se recolhe quando se sai. Quem entrar com cem euros pode receber oito mil ou mais, quem entrar com cinco euros pode receber cinquenta ou mais, quem entrar com dez mil pode receber mais de cem mil.
É fácil. Dá milhões. E não é crime. A única obrigação é, ao entrar na Bolha, fazer entrar mais dois. A rapidez e a simplicidade na multiplicação do dinheiro não deixa outra vontade que não seja entrar de imediato. A fortuna à mão. Nada de ilegal. Nada de truques baixos. Esta é a aparência. Porém, por trás desta capa de simplicidade esconde-se um alçapão bem escuro e perigoso. Sabe-se que esta circulação fácil de dinheiro incita à multiplicação das entradas e saídas.
À criação de expectativas sedutoras de enriquecimento fácil, ao alastramento das Bolhas, recrutando cada vez maior número de jogadores, aumentando cada vez mais o valor da entrada e, ainda mais, os valores de saída. A cobiça instala-se. A vertigem da riqueza repete, alarga e aumenta as bases de recrutamento. Em cada desesperado há um sonho por realizar. A Bolha garante que ele se realiza rapidamente. Aposta-se mais. Recruta-se mais. E volta-se ao mesmo. As instituições de crédito rápido mas com juros altíssimos emprestam e cobram, a vertigem continua até que, por alguma de muitas razões, não é possível continuar o recrutamento ou, por qualquer imprevisto, é interrompido. A Bolha rebenta. Vulgarmente quando rebenta já tem envolvidos milhares de jogadores e milhões de euros.
Olhando o fenómeno por outro lado, tal como noutras crises surgiram as riquezas imediatas – veja-se o caso da Dona Branca e o estendal de misérias que gerou – a angústia leva muitos ao caminho do desespero. É verdade que há muito não enfrentávamos uma situação tão difícil. É verdade que estamos a viver a maior tristeza. Mas a verdade é que a Bolha não nos salva. Afunda-nos rapidamente. É preferível apostar na política. Afunda-nos mais devagar e enquanto há vida, há esperança.
Francisco Moita Flores, professor universitário
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