As minhas memórias de Francisco Finura
Um tronco muito direito, uma barba tipo popeye, cachimbo na boca, sentado na sua bicicleta de carreto preso, envergando um fato macaco azul, do qual sobressaia um impecável lenço branco do bolso superior esquerdo, eis Francisco Finura, passando pelo Bairro de Troino, ali pelas bandas da Fonte Nova.
O “Finurrras” era (é !!!) uma pessoa muito bem considerada não só neste bairro típico, como na generalidade da cidade de Setúbal, embora devido às suas peculiares características também fosse alvo, por vezes, de algumas inofensivas brincadeiras.
Francisco Finura é um homem de grande talento e engenho, a minha primeira memória dele penso que remonta lá para os anos 50 quando, na Rua Fran Pacheco, onde ele morava, estavam a abrir uma vala destinada ao saneamento básico e foram descobertas algumas ânforas cheias de moedas romanas, ainda apanhei algumas, mas o principal “arqueólogo” segundo diziam os rapazes naquele tempo, foi o “Finurrras”. Hoje podem apreciar-se muitas dessas moedas no Museu da Cidade.
Mais tarde, num programa de televisão onde participei com o Coral Luísa Todi, o nosso Francisco Finura também foi convidado como figura carismática setubalense, recordo como ele contou naquele programa, como de uma só vez salvou várias pessoas de morrerem afogadas com o recurso a um remo, que ao puxar dizia ele “pareciam um cacho de uvas, agarradas ao remo”, de notar que este homem salvou, ao longo da sua vida, mais de duas dezenas de pessoas de morrerem afogadas.
Meu pai era pescador e tal como os outros homens do mar sempre que estavam aflitos com cabos ou redes presos nas hélices dos barcos e não conseguindo resolver a situação, lá se iam socorrer do “Finurrras” que recorrendo ao seu engenho e como muito bom mergulhador que era, resolvia-lhes o problema.
Quando jovem e com o nosso grupo de escuteiros participamos nos anos 60 nos bem organizados e divertidos corsos do Carnaval de Setúbal, o rei Finura lá ia magestáticamente sentado no seu trono, muito senhor do seu papel, aliás ele também foi um duplo num dos filmes do 007 penso eu, na altura das filmagens os rapazes de Troino comentavam que o “Finurrras” levava um “ensaio de porrada e caia ao mar” e isso tinha de ser feito várias vezes durante as filmagens um verdadeiro artista…
Mas, o que mais me agrada recordar neste bom homem, foi na altura que eu tinha aí os meus 16/17 anos e estava empregado na extinta Casa dos Pescadores, ali no “lago” , hoje conhecido por Praça José Afonso. Sempre que havia algo que se avariava no edifício a D. Maria Virgínia, responsável pela Casa, dava logo ordem para chamar o Senhor Finura, dado que ele resolvia tudo.
Ora bem, nessa altura o nosso homem estava no auge da sua faceta de hipnotizador e as minhas colegas, na brincadeira, diziam-me para eu “adormecer” logo que ele chegasse junto ao nosso guichet de atendimento, pobre senhor Finura… dava-lha cada seca… ele convencido que eu estava hipnotizado e a querer que eu acordasse, eu que nunca mais acordava, pese embora os seus esforços, as colegas a darem-lhe cabo da paciência dizendo que era melhor chamar o médico, imaginem a cena… Ao fim de algum tempo para alivio do nosso hipnotizador lá “acordava” eu dizendo que não me lembrava de nada do que tinha acontecido.
O nosso Finura comentava em tom de alivio e desabafo: “ o rapaz é fraco, o rapaz é fraco …” de facto, naquela altura eu era mesmo muito magrinho o que até dava jeito para a inofensiva brincadeira.
Agora que pretendemos homenagear este grande homem e bom setubalense sugerimos que aceda a
http://www.facebook.com/event.php?eid=131627360192676&ref=share para reservar o seu lugar no almoço de homenagem e que aceda igualmente a http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2010N1954 afim de assinar a petição publica com que se pretende que a Câmara Municipal de Setúbal possa atribuir o nome de Francisco Finura a uma zona da nossa Cidade de Setúbal.
Rui Canas Gaspar
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