BRASIL
O JORNAL BRASILEIRO “ A CIDADE “ PUBLICOU A NOTICIA DA AUTORIA DE RUBENS ZAIDAN QUE REPRODUZMOS ABAIXO
Sabado, 17 de Maio 2008 - 19h32
Mórmons prontos para o fim do mundo
J.F.PIMENTA NORBERTO DE JESUS CANO Advogado acompanha avanço tecnológico: “últimos dias podem levar séculos”
No sudoeste da China pode chegar a 50 mil o número de vítimas do terremoto que alcançou 7,8 graus na escala Richter. E no Brasil, cantado em prosa e verso como o país “abençoado por Deus”, moradores de quatro estados sentiram o bafo de outro tremor de terra, dois graus menos intenso, com epicentro no fundo do mar, a 270 quilômetros da costa do litoral norte - o mais forte dos últimos cem anos em São Paulo. Felizmente sem vítimas. Esse cenário composto de catástrofes naturais, com terremotos, maremotos, tsunamis, furacões e também violência dos mais variados matizes, não causa surpresa para os 12 milhões de membros em todo o mundo da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Os mórmons, como são conhecidos (são 600 mil no Brasil, dos quais perto de 12 mil em Ribeirão Preto) se preparam há 178 anos, desde que a Igreja foi “restabelecida” nos Estados Unidos por Joseph Smith, para a segunda vinda de Cristo, prevista para os “últimos dias” da humanidade. De acordo com a profecia, serão dias de “purificação” e nada tranqüilos.
Isso não significa que os membros da igreja passam a vida à espera do fim do mundo, mesmo preparados psicológica e tecnicamente para enfrentar as situações adversas descritas pela Bíblia, no Apocalipse. Cada família mórmon é orientada a armazenar em casa alimento suficiente pelo menos por um ano, usando técnicas milenares de conservação. Método ideal não só para enfrentar as profecias bíblicas, mas eventuais períodos de desemprego e escassez ou o preço alto das entressafras. As técnicas de armazenamento também são repassadas em cursos especiais para a comunidade, que recebe orientação direta e através de folhetos.
Pelo mesmo motivo, as capelas e templos são construídas e dimensionadas para suportar tremores de terra de até 7 graus na escala Richter. Será que já são os “sinais dos tempos”, previstos nas profecias bíblicas?
- É uma metáfora. Os últimos dias podem levar anos, décadas ou até séculos, não sabemos, adverte Norberto de Jesus Cano, advogado, administrador de empresas, 47 anos, presidente de uma das duas alas administrativas da Igreja na cidade, a Estaca Oeste. Ele também é um entusiasta admirador das descobertas científicas e tecnológicas da atualidade.
Norberto Cano explica que os membros estão tranqüilos de coração, porque aprenderam com os apóstolos que estamos na “última volta” do relógio.
- Sabemos que vivemos anos difíceis e paradoxalmente, anos maravilhosos de descobertas tecnológicas e científicas. O pecado tem aumentado na Terra ao mesmo tempo que o conhecimento para melhorar a qualidade de vida. Mas a segunda vinda de Cristo acontecerá - acredita o administrador da Igreja. Para ele, “muitos serão chamados e poucos os escolhidos”, mas sem sectarismo: em toda a terra, afirma, “existem pessoas bondosas, caridosas, justas e essas pessoas serão preservadas, com certeza.”
Capelas e templos à prova de terremoto
Na construção, só material de qualidade e aditivos de reforço
Os mórmons não ficam apenas no discurso para demonstrar a sua fé: eles constroem capelas e templos com estrutura e alicerce dimensionados para suportar tremores de terra. Em Ribeirão Preto existem 12 capelas construídas com estrutura reforçada para suportar tremores de terra com intensidade entre 6 e 7 graus de intensidade na escala Richter. Da mesma forma, os cinco templos em funcionamento no país nas cidades de São Paulo, Recife, Porto Alegre, Campinas e Curitiba. E tem mais um projetado para Manaus.
Osvaldo Fonseca, além de ser membro da igreja há 30 anos, é o engenheiro responsável pela manutenção dos prédios em Ribeirão Preto há oito anos. Ele explica que antes de comprar o terreno para a construção, é feita uma sondagem para verificar o tipo do solo, a resistência do terreno e o nível do lençol freático.
Depois que o terreno é aprovado, geralmente nos lugares mais altos, longe de enchentes e de depósitos de lixos comprometedores, são usadas estacas pré-moldadas e tubulões de construções de pontes. O índice de resistência característica do concreto é o mais alto e ainda recebe aditivos especiais para reduzir a porosidade do material. Tanto o concreto como o aço tem resistência para agüentar sempre carga maior do que a da construção.
- Isso é porque estamos no Brasil. Nos países com problemas crônicos de abalos sísmicos e enchentes, os prédios recebem tratamento ainda mais especial para suportar terremotos com intensidade acima de 7 graus- explica o engenheiro Fonseca.
Getúlio Ferreira Silva, membro da igreja há 26 anos, diz que se sente mais seguro participando das reuniões aos domingos e que as normas gerais são para serem usadas diariamente pelas famílias, independente de épocas de crise.
Os mórmons são conhecidos por manter registros genealógicos de todos os países do mundo, com a coordenação da Biblioteca de História da Família,com sede em Salt Lake City: ali estão guardados mais de dois milhões de rolos de microfilmes com reproduções de originais de nascimentos, mortes, casamentos. Tudo guardado dentro da montanha de granito, à prova de terremotos e ataque nuclear.
Alho com casca ajuda a preservar arroz por anos
Na última terça-feira à noite, na capela dos mórmons, perto da elegante avenida Fiúsa, defronte à entrada da tradicional escola católica Santa Úrsula, as mulheres da Sociedade de Socorro se reúnem para ensinar a técnica de armazenamento de alimentos. Gisele Cano, presidente da entidade em Ribeirão Preto, cercada das conselheiras, mostra uma garrafa pet com arroz “in natura” guardada há quatro anos.
Ela explica que é simples: depois de esterilizar uma garrafa pet com água fervente e enxugar bem, basta colocar um dente de alho no fundo da garrafa, com casca e tudo. O alho age como bactericida e conservante natural. Depois, colocar dez centímetros de arroz. Mais um dente de alho. Mais dez centímetros de arroz e outro dente de alho. Até chegar na borda: antes de fechar bem com a tampa da própria garrafa, o último dente de alho. Para garantir, passar uma fita crepe em volta da tampa e a família tem arroz natural preservado por muitos anos. O que pode ser feito com outros grãos.
Também é ensinada a técnica mais sofisticada com o uso de latas. Os mórmons armazenam arroz, feijão, macarrão, açucar, farinha, lentilha, grão-de-bico, além de água potável, compotas, frutas, sopas e carnes cozidas especiais.
- Cozido de carne a gente pode fazer com a mesma técnica usada para sopa. Uma das mulheres mora no conjunto João Rossi, onde sempre falta água. Mas ela nunca fica sem - conta a presidente da Sociedade de Socorro, feita para atender necessitados e aflitos.
RUBENS ZAIDAN
Especial para A Cidade
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